quinta-feira, 26 de junho de 2014

'Avesso' by Denilce Luca (ilustração José Almada Negreiros)

Sinto mais forte na carne as invisíveis chibatadas da vida

Tantas dores sofridas, antes acolhidas e acalentadas

Lágrimas e choros abafados no colo quente, tão perto do útero que um dia acolheu esse corpo que também morre a cada dia...

Clamo agora no vazio

Talvez a deuses eternos e etéreos

Invisíveis como as chibatadas que me cortam

Sussurro ao léu

Tudo é escuro, tudo é vazio

Até que um dia, no avesso do avesso, eu possa nascer do outro lado

Talvez novamente brotando do teu útero

Sentindo o calor que guardei dentro de mim como pequena chama que arde fazendo viver a lembrança

Lembrança eterna

Dor eterna

Até que os eternos deuses etéreos escutem minhas súplicas

E finalmente me levem ao avesso do avesso

Talvez onde estejas, onde decerto não há carne, nem chibatadas, nem dor.

2 comentários:

  1. Que beleza!
    Acredito que um dia, toda dor será aliviada, e toda pergunta terá uma resposta.
    Aguardemos...

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    1. Obrigada Ana! Fico muito feliz que tenha gostado! Forte abraço!

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